Freud
devolve uma teoria para explicar como funciona o sistema nervoso baseado na
ação do princípio inicial, a saber, de inércia.
Através desse princípio inicial, os neurônios procuram se livrar da
quantidade de energia que perpassa todo o sistema. Afirma Freud (1895 [1950]):
“Partindo
dessa concepção [da excitação neuronal como uma quantidade em estado de fluxo],
pôde-se estabelecer um princípio básico da atividade neuronal em relação a Q[1], que prometia ser
extremamente elucidativo, visto que parecia abranger toda a função. Esse é o
princípio da inércia neuronal: os neurônios tendem a se livrar de Q”. (p. 348)
A meta
do neurônio é de “livrar-se da quantidade” e de toda a energia, de forma que Q
seja igual a zero (Q=0). Freud almeja com isso “é prover uma psicologia que
seja ciência natural: isto é, representar os processos psíquicos como estados
quantitativamente determinados de partículas materiais especificáveis, tornando
assim esses processos claros e livres de contradição” (Freud, 1895 p. 223/224).
Freud transforma os neurônios em matéria e por isso é regido pelas leis do
movimento.
O
sistema nervoso é ativado através dos neurônios sensoriais, graças a excitações
que atingem o corpo. Essas excitações são descarregadas através dos neurônios
motores, pela fuga do estímulo. Deve-se lembrar que os estímulos externos, o
princípio de inércia (Qn = 0)[2] pode ser mantido. Vale a
pena ressaltar que “o princípio da inércia explica a dicotomia estrutural [dos
neurônios] em motores e sensoriais, como um dispositivo destinado a neutralizar
a recepção de Q, através de sua descarga” (Freud, 1985 p. 224).
A
função primária do sistema nervoso usa a energia (Q) da irritabilidade geral do
protoplasma, com a superfície externa irritável do corpo, para descarrega-la
nos músculos e, desse modo, se mantém livre do estímulo. A função secundária do
sistema nervoso surge como o caminho pelo qual se prefere e conserva a cessação
do estímulo. Aqui se estabelece “uma proporção entre a Q de excitação e o
esforço requerido para a fuga do estímulo, de modo que o princípio da inércia
não seja abalado por isso” (Freud, 1985 p. 224).
A
inércia é rompida na medida em que aumenta os estímulos endógenos no sistema
nervoso, a tal ponto que precisam ser descarregados. A origem destes estímulos
são as células do corpo, e desta forma criam as necessidades vitais como
respiração, a sexualidade, etc. Esses estímulos só sessam quando são atendidos
pelo indivíduo. Freud assim coloca essa dinâmica fundamental a manutenção da
vida:
“Em
consequência, o sistema nervoso é obrigado a abandonar sua tendência original à
inércia (isto é, a reduzir o nível [da Q a zero). Precisa tolerar [a manutenção
de] um acúmulo de Q suficiente para satisfazer as exigências de uma ação
específica. Mesmo assim, a maneira como realiza isso demonstra que a mesma
tendência persiste, modificada pelo empenho de ao menos manter a Q no mais
baixo nível possível e de se resguardar contra qualquer aumento da mesma - ou
seja, mantê-la constante.” (Freud,
1985 p. 225)
Freud
no Projeto tem como um dos seus objetivos relacionar energia (Q) com o
neurônio. Mesmo que haja várias categorias de neurônios, eles estão
interligados e “recebem [excitações] através dos processos celulares
[dendritos] e [deles se descarregam] através de um cilindro axial [axônio]” (Freud, 1985 p. 225). Mas há no sistema aquilo que
Freud classificou como barreira de contato entre os neurônios, ou seja, resistências
opostas à descarga.
Freud
esclarece que a via de condução passa através do protoplasma indiferenciado, e
não (como se dá afora isso, dentro do neurônio) através do protoplasma
diferenciado, que provavelmente se adapta melhor à condução. O sistema de
barreira de contato entre os neurônios facilita a compreensão de funcionamento
da memória, graças “a uma classe de neurônios a característica de ser permanentemente
influenciada pela excitação, ao passo que a imutabilidade - a característica de
estar livre para excitações inéditas - corresponderia a outra classe” (Freud,
1985 p. 226).
Freud
defende a tese de que há neurônios que permite que a carga de energia (Q)
passe, depois de cada passagem de excitação permanecem no mesmo estado anterior;
porém há outra classe de neurônios que dificultam essa passagem de energia (Q).
“Os dessa última classe podem, depois de cada excitação, ficar num estado
diferente do anterior, fornecendo assim uma possibilidade de representar a
memória” (Freud, 1985 p. 227).
Os
neurônios permeáveis não dificultam a passagem e não retém a energia (Q), já os
impermeáveis resistem e retém. De acordo com esse princípio, a memória está
representada pelas facilitações existentes entre os neurônios. A memória pode
ser caracterizada como uma experiência (isto é, sua força eficaz contínua).
Dito de outro modo, “a facilitação depende da Q que passa pelo neurônio no
processo excitativo) e do número de vezes em que esse processo se repete” (Freud,
1985 p. 228). A energia (Q) nunca é eliminada totalmente do sistema, pois do
contrária não seria possível manter os impulsos vitais operantes.
Freud
ao desenvolver a teoria das duas espécies de neurônios, permeáveis e
impermeáveis, torna possível propor que eles guardam e mesmo tempo ainda
recebem mais energia. “Toda aquisição psíquica, neste caso, consistiria na
organização do sistema por suspensões parcial e localmente determinadas da
resistência nas barreiras de contato” (Freud, 1985 p. 229). Vale a pena lembrar
que mesmo com a existência de duas categorias de neurônios não é possível
estabelecer claras diferenças de funcionamento deles.
Freud
segue com sua teoria das duas espécies de neurônios, e procura relaciona as
particularidades de cada um com a constituição do cérebro, ou seja:
“existe
um sistema de neurônios (a massa cinzenta da medula espinhal) que é o único a
estar em contacto com o mundo externo, e um sistema superposto (a massa
cinzenta do cérebro) que não tem ligações periféricas, mas ao qual estão
relacionados o desenvolvimento do sistema nervoso e as funções psíquicas.”
(Freud, 1985 p. 230).
Esse
formato em que se apresenta o cérebro humano, ajuda a entender como se dá
ligação do sistema nervoso com o mundo externo. Não está bem compreendida para
Sigmund Freud as esfericidades deste sistema nervoso e como que o organismo o
desenvolveu. Em seguida ele passa a investigar a quantidade de energia que chega
de mundo externo e interno para o sistema nervoso e qualifica qual é o mais
importante.
Freud
explica que o mundo externo constitui a fonte de todas as grandes quantidades
de energia. O sistema que lida com essas energias advindas do exterior tem como
função descarrega-las e ao mesmo tempo filtra-las no sistema nervoso e
minimizar os impactos neles. Não são os neurônios que diretamente lidam com a
energia do mundo externo, mais outros sistemas celulares do corpo.
“Isso
mostra que a terminação de um neurônio e a conexão entre os neurônios são
constituídas da mesma forma e que os neurônios terminam uns nos outros do mesmo
modo que os elementos somáticos [cf. em [1]]; provavelmente, o caráter
funcional de ambos os processos também é do mesmo tipo. É provável que as
extremidades nervosas e no caso da condução intercelular sejam manejadas
quantidades semelhantes.” (Freud, 1985 p. 231)
Surge
diante dessa teoria a necessidade de explicar mais detalhadamente a questão da
quantidade de energia. Freud admite que elas sejam de uma ordem de magnitude
relativamente pequena e idêntica à das resistências das barreiras de contato. Neste
sentido, se faz necessário ressaltar que o sistema nervoso sempre trabalha para
manter Q=0, e as descargas sobre os neurônios são atenuadas pelas estruturas
celulares exógenas, nas palavras de Freud, “bem poderiam ter a finalidade de
não permitir que as Qs exógenas incidissem com o máximo de intensidade sobre, mas
sim a de atenuá-las” (Freud, 1985 p. 232).
Freud
utiliza-se da dor para elucidar melhor sua teoria da quantidade de energia.
Como foi elucidado a cima, o sistema nervoso está constituído de tal maneira que
as grandes Qs externas fiquem afastadas o máximo possível dos neurônios
permeáveis e impermeáveis. A dor seria uma espécie de “falha” desses
dispositivos que bloqueiam a passagem de energia do mundo externo para o
sistema nervoso. Isso fica mais evidente quando se leva em conta que o sistema
nervoso quer fugir o máximo possível da dor.
Mais uma vez é salutar recorrer as palavras de Freud:
“As
causas precipitadoras da dor são, por um lado, o aumento de quantidade: toda
excitação sensorial, mesmo a dos órgãos superiores dos sentidos, tende a se
transformar em dor à medida que o estímulo aumenta. Isso deve ser interpretado,
sem hesitação, como uma falha [do dispositivo]. Por outro lado, a dor se
manifesta quando a quantidade externa é pequena, e, nesses casos, aparece
sempre vinculada a uma interrupção da continuidade: isto é, uma Q externa que
atua diretamente sobre as terminações dos neurônios, e não através dos
aparelhos de terminações nervosas, produz a dor” (Freud, 1985 p. 233).
Não
basta entender sobre a quantidade de energia (Q) para compreender o sistema
nervoso, mas também abordar a qualidade dessa energia. Aqui Freud passa a
abordar a questão da consciência, principalmente pela sua incapacidade de não
perceber os neurônios e a quantidade de energia. Dito de outro modo, a
consciência não oferece conhecimentos plenos dos processos neuronais, mas que
eles se passam no inconsciente.
A
consciência permite ao indivíduo qualificar as diversas manifestações das
sensações e, ao mesmo tempo, diferenciá-las. Aqui não está envolvido a
necessidade de quantificar as sensações. Resta claro que a qualificação das
sensações pela consciência se passa no interior do sistema nervoso. Contudo,
resta esclarecer de onde vem a qualidade para a consciência.
Surge
diante desse imbróglio uma saída, a saber, de natureza temporal, em “que toda a
resistência das barreiras de contato se aplica somente à transferência de Q,
mas que o período do movimento neuronal é transmitido a todas as direções sem
inibição, como se fosse um processo de indução” (Freud, 1985 p. 235). Freud
classifica esse processo de diferenças de período, localizada nos órgãos dos
sentidos. É salutar esclarecer que os órgãos dos sentidos não só funcionam como
telas de Q, mas também são os responsáveis por transmitirem essa diferença de
período.
Freud
lembra que “A consciência é aqui o lado subjetivo de uma parte dos processos
físicos do sistema nervoso, isto é, dos processos; e a omissão da consciência não
deixa os eventos psíquicos inalterados, mas acarreta a falta da contribuição de”
(Freud, 1985 p. 236). É nos neurônios que surgem, via consciência, as sensações
de prazer e desprazer. Todo sistema psicológico sempre tende a fugir do
desprazer, fato que possivelmente eleva a carga de energia (Q) e/ou aumenta a
carga quantitativa. O prazer corresponderia à sensação de descarga. Freud
afirma que:
“O
prazer e o desprazer seriam as sensações correspondentes à própria catexia de ,
ao seu próprio nível; e aqui e funcionariam, por assim dizer, como vasos
comunicantes. Desse modo também chegariam à consciência os processos
quantitativos em, mais uma vez como qualidades” (Freud, 1985 p. 237).
Agora
será apresentado o funcionamento do sistema. As cargas de energia advindas do
mundo externo penetram no sistema, e são fragmentadas e filtradas nas
terminações nervosas. Só chegam aos neurônios energias quantitativas capazes de
serem transformadas em qualitativas. No mundo externo, os processos exibem uma
sucessão contínua em duas direções, segundo a quantidade e o período
(qualidade), os estímulos correspondentes [aos processos] ficam, no que diz
respeito à quantidade, em primeiro lugar reduzidos e, em segundo, limitados em
virtude de uma excisão, e, no que diz respeito à qualidade, ficam descontínuos,
de modo que certos períodos nem sequer atuam como estímulos.
As
vias y são uma linha direta do corpo para os neurônios e são as molas mestras
do sistema psíquico. Os estímulos endógenos, de natureza intercelular, acumulam
energia e em seu caminho até y; enfrentam resistência que só são superadas com
aumento dessa energia. As vias de condução, portanto, são compostas de
segmentos múltiplos, tendo uma série de barreiras de contato intercaladas até
chegar ao núcleo de y. Acima de determinada Q, porém, elas [as excitações
endógenas] atuam continuamente como um estímulo, e cada aumento de Q é
percebido como um aumento do estímulo y. Isso implica, então, a existência de
um estado em que a via de condução torna a recuperar sua resistência. Todo esse
processo é chamado por Freud como soma.
Os
neurônios y são ao mesmo tempo permeáveis e impermeáveis, sendo capazes de
recuperar-se mesmo depois da passagem de energia (Q). Esse fato os influencia
no sentido de facilitação. Durante a passagem de energia nesse sistema y não a
resistência, somente depois é que ela aparece. “Disso se conclui, porém, que as
barreiras de contato y são, em geral, mais altas do que as vias [endógenas] de
condução, de modo que nos neurônios nucleares possa produzir-se uma nova
acumulação de Q” (Freud, 1985 p. 240).
Freud
dedica-se a explicar a essa altura o mecanismo da experiência de satisfação. Quando
os neurônios nucleares estão cheios em y eles tendem a descarga através da via motora.
Essas descargas causam alterações internas tais como o grito, inervação
vascular e as emoções. Para eliminar os efeitos desta descarga se faz
necessário reduzi-la com estímulos do mundo externo, como comida, aproximação
do objeto sexual desejado, etc. Vale
lembrar que esse estímulo externo só pode ser por uma outra pessoa, que ao
expor qualquer uma das coisas a cima elencadas, produz uma redução do estímulo
endógeno. O efeito de redução do estímulo endógeno gera a experiência de satisfação
no desamparado. De acordo com Freud:
“Isso
porque três coisas ocorrem no sistema: (1) efetua-se uma descarga permanente e,
assim, elimina-se a urgência que causou desprazer em; (2) produz-se no pallium
a catexização de um (ou de vários) neurônio que corresponde à percepção do
objeto; e (3) em outros pontos do pallium chegam as informações sobre a
descarga do movimento reflexo liberado que se segue à ação específica.
Estabelece-se então uma facilitação entre as catexias e os neurônios nucleares”
(Freud, 1985 p. 241).
A
experiência da dor é o resultado de uma enorme descarga nos neurônios y via
sistema endógeno. O resultado disso é uma sensação de desprazer e uma imagem
mnêmica do objeto que provoca a dor. Quando a imagem mnêmica do objeto causador
da dor aparece, o indivíduo volta a ter os mesmos sintomas da dor, mesmo não
sendo efetivamente dor. Esse estado inclui o desprazer e a tendência à descarga
que corresponde à experiência da dor; “resta, pois, pressupor que, devido à
catexia das lembranças, o desprazer é liberado do interior do corpo e de novo
transmitido” (Freud, 1985 p. 243).
Os
afetos e o estado de desejo são produtos da experiência da dor e da satisfação.
Ambos provocam grandes tensões de Q em y produzindo, no caso de um afeto, pela
liberação súbita e, no de um desejo, por soma. O estado do desejo resulta numa atração
positiva para o objeto desejado, ou mais precisamente, por sua imagem mnêmica;
a experiência da dor leva à repulsa, à aversão por manter catexizada a imagem
mnêmica da dor leva à repulsa, à aversão por manter catexizada a imagem mnêmica
hostil.
O Ego
é o mecanismo pelo qual y organiza a satisfação e a dor. Freud define ego “como
a totalidade das catexias y existentes em determinado momento, nas quais cumpre
diferenciar um componente permanente e outro mutável [em [1], adiante]” (Freud,
1985 p. 245). Quando há inibição por um ego catexizado, as indicações de descarga
w tornam-se, em termos muito gerais, indicações da realidade, que y aprende biologicamente a
aproveitar. Quando o ego, no momento em que surge essa indicação da realidade,
se encontra em estado de tensão e desejo, ela permite que se siga uma descarga
no sentido da ação específica. Quando a indicação da realidade coincide com um aumento
do desprazer, y produzirá então, por meio de uma catexia colateral de
considerável grandeza, uma defesa de magnitude normal situada no lugar
indicado. Se não ocorrer nenhuma dessas duas circunstâncias, a catexia poderá
prosseguir sem nenhum impedimento, de acordo com as condições em que se
encontrem as facilitações.
A
cognição e o pensamento reprodutivo. Assim, julgar (função cognitiva) é um processo que só se torna
possível graças à inibição pelo ego e que é evocado pela dessemelhança entre a catexia de desejo de uma
lembrança e a catexia perceptual que lhe seja semelhante. Freud lembra que o “pensamento
reprodutivo tem, pois, um objetivo prático e um fim biologicamente estabelecido
- a
saber, conduzir de volta para a catexia do neurônio desaparecido uma Q que está
migrando da percepção supérflua [indesejada]” (Freud, 1985 p. 251). Nenhuma
experiência sexual produz qualquer efeito enquanto o sujeito ignora toda e
qualquer sensação sexual. O processo de pensamento consiste na
catexia dos neurônios y, acompanhada por uma mudança, promovida pela catexia
colateral do ego, naquilo que é imposto pelas facilitações.
Por fim
Freud aborda a questão do sonho, definindo-o como realizações de desejos,
geralmente reprimidos. Além disso, é interessante que, nos sonhos, a
consciência fornece a qualidade com a mesma facilidade que na vida desperta.
Freud
procurou articular o sistema nervoso com os processos psíquicos, e a partir
disso estabelecer a relação corpo e mente. Neste sentido o princípio da inércia
nervosa, desenvolvido por Freud, postulava que os neurônios desejam libertar-se
das cargas elétricas mentais. A análise destes processos permitiu que Freud
compreendesse a gênese das faculdades mentais e a noção de prazer neles
implicados.
O pai
da psicanálise defendia a tese de que “o sistema nervoso consistia apenas do
conjunto de neurônios que Freud nomeou phi, permitindo um percurso para a
excitação que vai da extremidade perceptiva à extremidade motora do sistema.”
(Bocca, 2017) Porém diante das mais diversas fontes que excitavam o corpo, foi
necessário o desenvolvimento do sistema neurológico humano, com suas funções de
percepção, memória e consciência.
Os
estímulos corporais, como a fome, a sede, e todos os demais, são responsáveis
pela manutenção da vida. “Por isso o sistema nervoso passa, além de admitir, a
promover o armazenamento de parte desse estímulo” (Bocca, 2017) produzidos pelo
corpo. Vale a pena ressaltar que o corpo não elimina totalmente a carga
elétrica responsável pelos estímulos vitais a vida. “Dessa forma, o que dá
constituição e complexidade à arquitetura do sistema nervoso é, em primeiro
lugar, a conjugação entre a necessidade de eliminação e a de acúmulo de
estímulos; e em segundo lugar, as resistências que dificultam, ao mesmo tempo
em que regulam, a eliminação, isto é, as chamadas barreiras de contato.”
(Bocca, 2017 p. 26)
Freud
afirmava existir duas funções básicas dos neurônios, a saber, a perceptiva e a
recordativa. A intensidade e a quantidade dos estímulos recebidos pelos
neurônios determinam o escoamento pelas células perceptivas, seja para promover
a conservação pelas células recordativas. Assim Freud postulava que os
neurônios phi são responsáveis pela percepção e o psi pela recordação.
A
descrição quantitativa do funcionamento do corpo via estímulos mentais é
insuficiente para explicar as motivações que dirigem as ações humanas, tais
como medo, coragem e amor. Surge então a necessidade do elemento qualitativo
para preencher essa laguna de funcionamento e da relação corpo e mente. A
seguir será apresentada as qualidades psíquicas responsáveis por elucidar a
intencionalidade das ações humanas.
Freud
estudou a dor a fim de compreender melhor as qualidades psíquicas. Em primeiro
lugar ele constatou que a dor coloca em movimento simultaneamente os neurônios
de categoria psi e phi. Em seguida ele procurou atuar no aspecto qualitativo da
dor, ou seja, na consciência que o indivíduo possui da dor. Assim, Freud
desenvolve a noção de uma terceira categoria de neurônios, a saber, ômega.
São
através dos neurônios de categoria ômega, que o sistema neurológico, transforma
os estímulos de quantitativos para qualitativos. Outro fato importante a ser
mencionado é que a consciência da dor está ligada aos neurônios ômega. “Com
isso pôde sustentar que o fundamento da consciência estaria relacionado a ela,
isto é, que o sistema Ômega seria afetado segundo períodos de excitação, dando
subsídios para a qualificação operada pela consciência, que assim apresenta
como um de seus conteúdos a série de sensações de prazer e de desprazer.”
(Bocca, 2017 p. 30)
Bibliografia
Bocca,
Francisco Verardi. Paixões & psicanálise [recurso eletrônico]
: dimensões modernas da natureza humana / Francisco Verardi Bocca. - Dados
eletrônicos. - Vitória : Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria de
Ensino a Distância, 2017.
FREUD,
S. (1895 [1950]). Projeto para uma psicologia científica. Trad. sob a direção
de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 1).
[1] Q
= Quantidade (em geral, ou da ordem de magnitude no mundo externo)
[2]
QN= Princípio de inércia