domingo, 25 de fevereiro de 2018

“PROJETO PARA UMA PSICOLOGIA CIENTÍFICA” DE FREUD


Freud devolve uma teoria para explicar como funciona o sistema nervoso baseado na ação do princípio inicial, a saber, de inércia.  Através desse princípio inicial, os neurônios procuram se livrar da quantidade de energia que perpassa todo o sistema. Afirma Freud (1895 [1950]):



“Partindo dessa concepção [da excitação neuronal como uma quantidade em estado de fluxo], pôde-se estabelecer um princípio básico da atividade neuronal em relação a Q[1], que prometia ser extremamente elucidativo, visto que parecia abranger toda a função. Esse é o princípio da inércia neuronal: os neurônios tendem a se livrar de Q”. (p. 348)



A meta do neurônio é de “livrar-se da quantidade” e de toda a energia, de forma que Q seja igual a zero (Q=0). Freud almeja com isso “é prover uma psicologia que seja ciência natural: isto é, representar os processos psíquicos como estados quantitativamente determinados de partículas materiais especificáveis, tornando assim esses processos claros e livres de contradição” (Freud, 1895 p. 223/224). Freud transforma os neurônios em matéria e por isso é regido pelas leis do movimento.

O sistema nervoso é ativado através dos neurônios sensoriais, graças a excitações que atingem o corpo. Essas excitações são descarregadas através dos neurônios motores, pela fuga do estímulo. Deve-se lembrar que os estímulos externos, o princípio de inércia (Qn = 0)[2] pode ser mantido. Vale a pena ressaltar que “o princípio da inércia explica a dicotomia estrutural [dos neurônios] em motores e sensoriais, como um dispositivo destinado a neutralizar a recepção de Q, através de sua descarga” (Freud, 1985 p. 224).

A função primária do sistema nervoso usa a energia (Q) da irritabilidade geral do protoplasma, com a superfície externa irritável do corpo, para descarrega-la nos músculos e, desse modo, se mantém livre do estímulo. A função secundária do sistema nervoso surge como o caminho pelo qual se prefere e conserva a cessação do estímulo. Aqui se estabelece “uma proporção entre a Q de excitação e o esforço requerido para a fuga do estímulo, de modo que o princípio da inércia não seja abalado por isso” (Freud, 1985 p. 224).

A inércia é rompida na medida em que aumenta os estímulos endógenos no sistema nervoso, a tal ponto que precisam ser descarregados. A origem destes estímulos são as células do corpo, e desta forma criam as necessidades vitais como respiração, a sexualidade, etc. Esses estímulos só sessam quando são atendidos pelo indivíduo. Freud assim coloca essa dinâmica fundamental a manutenção da vida:



“Em consequência, o sistema nervoso é obrigado a abandonar sua tendência original à inércia (isto é, a reduzir o nível [da Q a zero). Precisa tolerar [a manutenção de] um acúmulo de Q suficiente para satisfazer as exigências de uma ação específica. Mesmo assim, a maneira como realiza isso demonstra que a mesma tendência persiste, modificada pelo empenho de ao menos manter a Q no mais baixo nível possível e de se resguardar contra qualquer aumento da mesma - ou seja, mantê-la constante.” (Freud, 1985 p. 225)



Freud no Projeto tem como um dos seus objetivos relacionar energia (Q) com o neurônio. Mesmo que haja várias categorias de neurônios, eles estão interligados e “recebem [excitações] através dos processos celulares [dendritos] e [deles se descarregam] através de um cilindro axial [axônio]” (Freud, 1985 p. 225). Mas há no sistema aquilo que Freud classificou como barreira de contato entre os neurônios, ou seja, resistências opostas à descarga.

Freud esclarece que a via de condução passa através do protoplasma indiferenciado, e não (como se dá afora isso, dentro do neurônio) através do protoplasma diferenciado, que provavelmente se adapta melhor à condução. O sistema de barreira de contato entre os neurônios facilita a compreensão de funcionamento da memória, graças “a uma classe de neurônios a característica de ser permanentemente influenciada pela excitação, ao passo que a imutabilidade - a característica de estar livre para excitações inéditas - corresponderia a outra classe” (Freud, 1985 p. 226).

Freud defende a tese de que há neurônios que permite que a carga de energia (Q) passe, depois de cada passagem de excitação permanecem no mesmo estado anterior; porém há outra classe de neurônios que dificultam essa passagem de energia (Q). “Os dessa última classe podem, depois de cada excitação, ficar num estado diferente do anterior, fornecendo assim uma possibilidade de representar a memória” (Freud, 1985 p. 227).

Os neurônios permeáveis não dificultam a passagem e não retém a energia (Q), já os impermeáveis resistem e retém. De acordo com esse princípio, a memória está representada pelas facilitações existentes entre os neurônios. A memória pode ser caracterizada como uma experiência (isto é, sua força eficaz contínua). Dito de outro modo, “a facilitação depende da Q que passa pelo neurônio no processo excitativo) e do número de vezes em que esse processo se repete” (Freud, 1985 p. 228). A energia (Q) nunca é eliminada totalmente do sistema, pois do contrária não seria possível manter os impulsos vitais operantes.

Freud ao desenvolver a teoria das duas espécies de neurônios, permeáveis e impermeáveis, torna possível propor que eles guardam e mesmo tempo ainda recebem mais energia. “Toda aquisição psíquica, neste caso, consistiria na organização do sistema por suspensões parcial e localmente determinadas da resistência nas barreiras de contato” (Freud, 1985 p. 229). Vale a pena lembrar que mesmo com a existência de duas categorias de neurônios não é possível estabelecer claras diferenças de funcionamento deles.

Freud segue com sua teoria das duas espécies de neurônios, e procura relaciona as particularidades de cada um com a constituição do cérebro, ou seja:



“existe um sistema de neurônios (a massa cinzenta da medula espinhal) que é o único a estar em contacto com o mundo externo, e um sistema superposto (a massa cinzenta do cérebro) que não tem ligações periféricas, mas ao qual estão relacionados o desenvolvimento do sistema nervoso e as funções psíquicas.” (Freud, 1985 p. 230).



Esse formato em que se apresenta o cérebro humano, ajuda a entender como se dá ligação do sistema nervoso com o mundo externo. Não está bem compreendida para Sigmund Freud as esfericidades deste sistema nervoso e como que o organismo o desenvolveu. Em seguida ele passa a investigar a quantidade de energia que chega de mundo externo e interno para o sistema nervoso e qualifica qual é o mais importante.

Freud explica que o mundo externo constitui a fonte de todas as grandes quantidades de energia. O sistema que lida com essas energias advindas do exterior tem como função descarrega-las e ao mesmo tempo filtra-las no sistema nervoso e minimizar os impactos neles. Não são os neurônios que diretamente lidam com a energia do mundo externo, mais outros sistemas celulares do corpo.



“Isso mostra que a terminação de um neurônio e a conexão entre os neurônios são constituídas da mesma forma e que os neurônios terminam uns nos outros do mesmo modo que os elementos somáticos [cf. em [1]]; provavelmente, o caráter funcional de ambos os processos também é do mesmo tipo. É provável que as extremidades nervosas e no caso da condução intercelular sejam manejadas quantidades semelhantes.” (Freud, 1985 p. 231)



Surge diante dessa teoria a necessidade de explicar mais detalhadamente a questão da quantidade de energia. Freud admite que elas sejam de uma ordem de magnitude relativamente pequena e idêntica à das resistências das barreiras de contato. Neste sentido, se faz necessário ressaltar que o sistema nervoso sempre trabalha para manter Q=0, e as descargas sobre os neurônios são atenuadas pelas estruturas celulares exógenas, nas palavras de Freud, “bem poderiam ter a finalidade de não permitir que as Qs exógenas incidissem com o máximo de intensidade sobre, mas sim a de atenuá-las” (Freud, 1985 p. 232).

Freud utiliza-se da dor para elucidar melhor sua teoria da quantidade de energia. Como foi elucidado a cima, o sistema nervoso está constituído de tal maneira que as grandes Qs externas fiquem afastadas o máximo possível dos neurônios permeáveis e impermeáveis. A dor seria uma espécie de “falha” desses dispositivos que bloqueiam a passagem de energia do mundo externo para o sistema nervoso. Isso fica mais evidente quando se leva em conta que o sistema nervoso quer fugir o máximo possível da dor.  Mais uma vez é salutar recorrer as palavras de Freud:

“As causas precipitadoras da dor são, por um lado, o aumento de quantidade: toda excitação sensorial, mesmo a dos órgãos superiores dos sentidos, tende a se transformar em dor à medida que o estímulo aumenta. Isso deve ser interpretado, sem hesitação, como uma falha [do dispositivo]. Por outro lado, a dor se manifesta quando a quantidade externa é pequena, e, nesses casos, aparece sempre vinculada a uma interrupção da continuidade: isto é, uma Q externa que atua diretamente sobre as terminações dos neurônios, e não através dos aparelhos de terminações nervosas, produz a dor” (Freud, 1985 p. 233).

Não basta entender sobre a quantidade de energia (Q) para compreender o sistema nervoso, mas também abordar a qualidade dessa energia. Aqui Freud passa a abordar a questão da consciência, principalmente pela sua incapacidade de não perceber os neurônios e a quantidade de energia. Dito de outro modo, a consciência não oferece conhecimentos plenos dos processos neuronais, mas que eles se passam no inconsciente.

A consciência permite ao indivíduo qualificar as diversas manifestações das sensações e, ao mesmo tempo, diferenciá-las. Aqui não está envolvido a necessidade de quantificar as sensações. Resta claro que a qualificação das sensações pela consciência se passa no interior do sistema nervoso. Contudo, resta esclarecer de onde vem a qualidade para a consciência.

Surge diante desse imbróglio uma saída, a saber, de natureza temporal, em “que toda a resistência das barreiras de contato se aplica somente à transferência de Q, mas que o período do movimento neuronal é transmitido a todas as direções sem inibição, como se fosse um processo de indução” (Freud, 1985 p. 235). Freud classifica esse processo de diferenças de período, localizada nos órgãos dos sentidos. É salutar esclarecer que os órgãos dos sentidos não só funcionam como telas de Q, mas também são os responsáveis por transmitirem essa diferença de período.

Freud lembra que “A consciência é aqui o lado subjetivo de uma parte dos processos físicos do sistema nervoso, isto é, dos processos; e a omissão da consciência não deixa os eventos psíquicos inalterados, mas acarreta a falta da contribuição de” (Freud, 1985 p. 236). É nos neurônios que surgem, via consciência, as sensações de prazer e desprazer. Todo sistema psicológico sempre tende a fugir do desprazer, fato que possivelmente eleva a carga de energia (Q) e/ou aumenta a carga quantitativa. O prazer corresponderia à sensação de descarga. Freud afirma que:                                



“O prazer e o desprazer seriam as sensações correspondentes à própria catexia de , ao seu próprio nível; e aqui e funcionariam, por assim dizer, como vasos comunicantes. Desse modo também chegariam à consciência os processos quantitativos em, mais uma vez como qualidades” (Freud, 1985 p. 237).



Agora será apresentado o funcionamento do sistema. As cargas de energia advindas do mundo externo penetram no sistema, e são fragmentadas e filtradas nas terminações nervosas. Só chegam aos neurônios energias quantitativas capazes de serem transformadas em qualitativas. No mundo externo, os processos exibem uma sucessão contínua em duas direções, segundo a quantidade e o período (qualidade), os estímulos correspondentes [aos processos] ficam, no que diz respeito à quantidade, em primeiro lugar reduzidos e, em segundo, limitados em virtude de uma excisão, e, no que diz respeito à qualidade, ficam descontínuos, de modo que certos períodos nem sequer atuam como estímulos.

As vias y são uma linha direta do corpo para os neurônios e são as molas mestras do sistema psíquico. Os estímulos endógenos, de natureza intercelular, acumulam energia e em seu caminho até y; enfrentam resistência que só são superadas com aumento dessa energia. As vias de condução, portanto, são compostas de segmentos múltiplos, tendo uma série de barreiras de contato intercaladas até chegar ao núcleo de y. Acima de determinada Q, porém, elas [as excitações endógenas] atuam continuamente como um estímulo, e cada aumento de Q é percebido como um aumento do estímulo y. Isso implica, então, a existência de um estado em que a via de condução torna a recuperar sua resistência. Todo esse processo é chamado por Freud como soma.

Os neurônios y são ao mesmo tempo permeáveis e impermeáveis, sendo capazes de recuperar-se mesmo depois da passagem de energia (Q). Esse fato os influencia no sentido de facilitação. Durante a passagem de energia nesse sistema y não a resistência, somente depois é que ela aparece. “Disso se conclui, porém, que as barreiras de contato y são, em geral, mais altas do que as vias [endógenas] de condução, de modo que nos neurônios nucleares possa produzir-se uma nova acumulação de Q” (Freud, 1985 p. 240).

Freud dedica-se a explicar a essa altura o mecanismo da experiência de satisfação. Quando os neurônios nucleares estão cheios em y eles tendem a descarga através da via motora. Essas descargas causam alterações internas tais como o grito, inervação vascular e as emoções. Para eliminar os efeitos desta descarga se faz necessário reduzi-la com estímulos do mundo externo, como comida, aproximação do objeto sexual desejado, etc.  Vale lembrar que esse estímulo externo só pode ser por uma outra pessoa, que ao expor qualquer uma das coisas a cima elencadas, produz uma redução do estímulo endógeno. O efeito de redução do estímulo endógeno gera a experiência de satisfação no desamparado. De acordo com Freud:



“Isso porque três coisas ocorrem no sistema: (1) efetua-se uma descarga permanente e, assim, elimina-se a urgência que causou desprazer em; (2) produz-se no pallium a catexização de um (ou de vários) neurônio que corresponde à percepção do objeto; e (3) em outros pontos do pallium chegam as informações sobre a descarga do movimento reflexo liberado que se segue à ação específica. Estabelece-se então uma facilitação entre as catexias e os neurônios nucleares” (Freud, 1985 p. 241).



A experiência da dor é o resultado de uma enorme descarga nos neurônios y via sistema endógeno. O resultado disso é uma sensação de desprazer e uma imagem mnêmica do objeto que provoca a dor. Quando a imagem mnêmica do objeto causador da dor aparece, o indivíduo volta a ter os mesmos sintomas da dor, mesmo não sendo efetivamente dor. Esse estado inclui o desprazer e a tendência à descarga que corresponde à experiência da dor; “resta, pois, pressupor que, devido à catexia das lembranças, o desprazer é liberado do interior do corpo e de novo transmitido” (Freud, 1985 p. 243).

Os afetos e o estado de desejo são produtos da experiência da dor e da satisfação. Ambos provocam grandes tensões de Q em y produzindo, no caso de um afeto, pela liberação súbita e, no de um desejo, por soma. O estado do desejo resulta numa atração positiva para o objeto desejado, ou mais precisamente, por sua imagem mnêmica; a experiência da dor leva à repulsa, à aversão por manter catexizada a imagem mnêmica da dor leva à repulsa, à aversão por manter catexizada a imagem mnêmica hostil.

O Ego é o mecanismo pelo qual y organiza a satisfação e a dor. Freud define ego “como a totalidade das catexias y existentes em determinado momento, nas quais cumpre diferenciar um componente permanente e outro mutável [em [1], adiante]” (Freud, 1985 p. 245). Quando há inibição por um ego catexizado, as indicações de descarga w tornam-se, em termos muito gerais, indicações da   realidade, que y aprende biologicamente a aproveitar. Quando o ego, no momento em que surge essa indicação da realidade, se encontra em estado de tensão e desejo, ela permite que se siga uma descarga no sentido da ação específica. Quando a indicação da realidade coincide com um aumento do desprazer, y produzirá então, por meio de uma catexia colateral de considerável grandeza, uma defesa de magnitude normal situada no lugar indicado. Se não ocorrer nenhuma dessas duas circunstâncias, a catexia poderá prosseguir sem nenhum impedimento, de acordo com as condições em que se encontrem as facilitações.

A cognição e o pensamento reprodutivo. Assim, julgar (função cognitiva) é um processo que só se torna possível graças à inibição pelo ego e que é evocado pela dessemelhança entre a catexia de desejo de uma lembrança e a catexia perceptual que lhe seja semelhante. Freud lembra que o “pensamento reprodutivo tem, pois, um objetivo prático e um fim biologicamente estabelecido

- a saber, conduzir de volta para a catexia do neurônio desaparecido uma Q que está migrando da percepção supérflua [indesejada]” (Freud, 1985 p. 251). Nenhuma experiência sexual produz qualquer efeito enquanto o sujeito ignora toda e qualquer sensação sexual. O processo de pensamento consiste na catexia dos neurônios y, acompanhada por uma mudança, promovida pela catexia colateral do ego, naquilo que é imposto pelas facilitações.

Por fim Freud aborda a questão do sonho, definindo-o como realizações de desejos, geralmente reprimidos. Além disso, é interessante que, nos sonhos, a consciência fornece a qualidade com a mesma facilidade que na vida desperta.

Freud procurou articular o sistema nervoso com os processos psíquicos, e a partir disso estabelecer a relação corpo e mente. Neste sentido o princípio da inércia nervosa, desenvolvido por Freud, postulava que os neurônios desejam libertar-se das cargas elétricas mentais. A análise destes processos permitiu que Freud compreendesse a gênese das faculdades mentais e a noção de prazer neles implicados.

O pai da psicanálise defendia a tese de que “o sistema nervoso consistia apenas do conjunto de neurônios que Freud nomeou phi, permitindo um percurso para a excitação que vai da extremidade perceptiva à extremidade motora do sistema.” (Bocca, 2017) Porém diante das mais diversas fontes que excitavam o corpo, foi necessário o desenvolvimento do sistema neurológico humano, com suas funções de percepção, memória e consciência.

Os estímulos corporais, como a fome, a sede, e todos os demais, são responsáveis pela manutenção da vida. “Por isso o sistema nervoso passa, além de admitir, a promover o armazenamento de parte desse estímulo” (Bocca, 2017) produzidos pelo corpo. Vale a pena ressaltar que o corpo não elimina totalmente a carga elétrica responsável pelos estímulos vitais a vida. “Dessa forma, o que dá constituição e complexidade à arquitetura do sistema nervoso é, em primeiro lugar, a conjugação entre a necessidade de eliminação e a de acúmulo de estímulos; e em segundo lugar, as resistências que dificultam, ao mesmo tempo em que regulam, a eliminação, isto é, as chamadas barreiras de contato.” (Bocca, 2017 p. 26)

Freud afirmava existir duas funções básicas dos neurônios, a saber, a perceptiva e a recordativa. A intensidade e a quantidade dos estímulos recebidos pelos neurônios determinam o escoamento pelas células perceptivas, seja para promover a conservação pelas células recordativas. Assim Freud postulava que os neurônios phi são responsáveis pela percepção e o psi pela recordação.

A descrição quantitativa do funcionamento do corpo via estímulos mentais é insuficiente para explicar as motivações que dirigem as ações humanas, tais como medo, coragem e amor. Surge então a necessidade do elemento qualitativo para preencher essa laguna de funcionamento e da relação corpo e mente. A seguir será apresentada as qualidades psíquicas responsáveis por elucidar a intencionalidade das ações humanas.

Freud estudou a dor a fim de compreender melhor as qualidades psíquicas. Em primeiro lugar ele constatou que a dor coloca em movimento simultaneamente os neurônios de categoria psi e phi. Em seguida ele procurou atuar no aspecto qualitativo da dor, ou seja, na consciência que o indivíduo possui da dor. Assim, Freud desenvolve a noção de uma terceira categoria de neurônios, a saber, ômega.

São através dos neurônios de categoria ômega, que o sistema neurológico, transforma os estímulos de quantitativos para qualitativos. Outro fato importante a ser mencionado é que a consciência da dor está ligada aos neurônios ômega. “Com isso pôde sustentar que o fundamento da consciência estaria relacionado a ela, isto é, que o sistema Ômega seria afetado segundo períodos de excitação, dando subsídios para a qualificação operada pela consciência, que assim apresenta como um de seus conteúdos a série de sensações de prazer e de desprazer.” (Bocca, 2017 p. 30)

























Bibliografia

Bocca, Francisco Verardi. Paixões & psicanálise [recurso eletrônico] : dimensões modernas da natureza humana / Francisco Verardi Bocca. - Dados eletrônicos. - Vitória : Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria de Ensino a Distância, 2017.

FREUD, S. (1895 [1950]). Projeto para uma psicologia científica. Trad. sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 1).



[1] Q = Quantidade (em geral, ou da ordem de magnitude no mundo externo)
[2] QN= Princípio de inércia

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