quarta-feira, 22 de agosto de 2018

AMOR EM FILOSOFIA E PSICANÁLISE


Fichamento 2
Na classificação tomista há dois tipos de paixões: as que dizem respeito ao bem e ao mal absolutamente, as paixões do concupiscível. São as seis primeiras: amor, ódio, desejo, aversão, deleite e tristeza, enquanto as cinco últimas concernem ao bem e ao mal enquanto difícil provindo do irascível. Em primeiro lugar serão vistas as paixões do concupiscível.
Amor é a mais forte das paixões. Em sentido estrito, o amor é um ato de apetência, que se refere ao bem presente ou ausente simplesmente considerado. O amor-paixão é um ato do apetite sensitivo “concupiscível”, ao passo que o amor-volição é um ato do apetite intelectivo ou da vontade. O objeto do amor é o bem. Tomás de Aquino insiste, antes de tudo, no fato de que o amor implica certa inclinação, aptidão, conaturalidade ou união com o objeto amado. O contrário sucede com o ódio, que é o afeto mais contrário ao amor.
Ódio é como um amor invertido: é a tendência afetiva contra o mal, tanto presente quanto ausente.
Desejo é um movimento do apetite concupiscível para o bem ausente simplesmente considerado. Chama-se também “concupiscência”; mas este termo é menos claro do que “desejo”.
Aversão corresponde ao desejo na linha do mal, pois se refere ao mal ausente simplesmente considerado (assim, dizemos que o homem tem aversão à enfermidade).
Deleite tem como objeto próprio o bem amado (por exemplo, a saúde) enquanto realmente presente.
Dor/Tristeza é um afeto diametralmente contrário ao deleite. Refere-se ao mal presente e simplesmente considerado. É como um repouso forçado e não natural em um mal odiado. Falando propriamente sobre o “gozo”, trata-se de um deleite de ordem psíquica (não corporal), e a tristeza é uma dor da mesma ordem. Assim, dizemos que gozamos com as boas notícias e que nos entristecemos com as más.
Agora serão apresentadas as paixões de ordem irascível. 
Esperança é o ato primeiro e mais importante do apetite irascível. É o movimento afetivo de acesso a um bem árduo e considerado como exequível.
Desespero se contrapõe o desespero. Este, como indica seu nome, é uma negação da esperança anterior (do mesmo sujeito), pois o sujeito desesperado abandona a luta e se afasta afetivamente do bem árduo ausente, considerado como inexequível ou quase inexequível.
Medo se refere ao mal árduo ausente e ameaçador (por exemplo, um grupo inimigo) que o sujeito julga superar e se diversifica seguindo a imprevisibilidade desse mal: o medo pode ser angústia, ou, segundo seu caráter insólito, estupor, etc., mas isso não muda a natureza da paixão.
Audácia versa sobre o mesmo mal, mas nos incita a aproximar-nos dele para superá-lo.
Ira uma paixão composta de outras duas: a tristeza pela grave injustiça sofrida e o desejo esperançoso de vingar ou reparar tal injustiça. É a única paixão à que propriamente não se opõe outra, porque o bem árduo ausente quando se faz presente se converte em um bem simples (e é objeto de gozo, como a vitória já obtida), e a renúncia à vergonha leva à “resignação” (que é uma tristeza tranquila) ou à “apatia” (indiferença ante os graves males que nos invadem).







 AMOR EM FILOSOFIA E PSICANÁLISE


Atividades propostas
• O que significa “desejo” para Tomás de Aquino?
Tomás de Aquino apresenta três definições de desejo: appetitus ou desejo em sentido amplo; desejo de ordem sensível; desejo desordenado ou pecaminoso (sobretudo tratando-se dos deleites do tato). Em sentido amplo, é a apetência de qualquer espécie de bem (possuído ou não possuído, fácil ou árduo). Em sentido estrito, é a apetência do bem não possuído e não árduo.
• Quais as relações entre o desejo e os outros afetos?
O desejo se refere somente ao bem ausente e a ele se opõe a aversão (horror, fuga) que tem como objeto próprio o mal ausente. Em seguida, temos o deleite (sobre o bem presente) e a dor (sobre o mal presente). Esses são os seis atos típicos ou as seis “paixões” da faculdade apetitiva concupiscível, que se denomina “concupiscível” porque nela se manifesta maximamente a concupiscência ou o desejo.
1) Distingue-se do ódio, da aversão e da dor porque essas três paixões versam essencialmente sobre o mal, e o desejo se refere necessariamente ao bem (ou ao que é considerado como bom).
2) Distingue-se também do amor e do gozo porque o primeiro versa sobre o bem tanto presente como ausente, e o segundo só se refere ao bem presente.
O objeto próprio do amor (que é a primeira de todas as paixões) é o bem simplesmente considerado, tanto presente como ausente, ao passo que o desejo só tem como objeto próprio o bem simples enquanto ausente. O ódio é a primeira paixão só na linha do mal, pois constitui o primeiro movimento afetivo para evitar o mal ou o que é inconveniente. Na linha do bem, o desejo é o efeito primeiro do amor. A “concupiscência” ou desejo se opõe, propriamente falando, à aversão (fuga), porque o desejo versa sobre o bem simples ausente, e a aversão sobre o mal simples também ausente. O desejo pode ser causa de deleite ou causa de dor. É causa de deleite quando se obtém o bem desejado (deleite perfeito) ou se espera obtê-lo (deleite imperfeito). É causa de dor quando não se consegue tal bem, ou quando nos desesperamos por consegui-lo. Notemos que a esperança pressupõe o amor e o desejo do bem (por exemplo, da vitória) e “fortifica” ou reforça o ato desejante, estendendo o apetite para as coisas grandes e difíceis, de modo que a esperança é como um amor ou como um desejo reforçado e “exaltado”, que tende para o bem árduo ausente.
• Explique o que é a moralidade do desejo.
O homem age bem, no plano moral, quando estabelece seu fim último em Deus (único bem perfeito); age moralmente mal quando coloca sua felicidade nos bens criados (que são sempre imperfeitos). As paixões que nos inclinam para o pecado podem reduzir-se a três: a concupiscência da carne ou dos prazeres carnais (luxúria), a concupiscência dos olhos ou das riquezas materiais (avareza) e a soberba da vida, que implica o amor exagerado de si mesmo, porque às duas citadas “concupiscências” se reduzem as paixões do apetite concupiscível e todas as paixões da classe irascível são redutíveis à soberba.
A moralidade do desejo depende dos objetos (bons ou maus moralmente) que desejamos, assim como do modo de nossos desejos (moderados ou imoderados), da condição do sujeito desejante e de outras várias circunstâncias. É natural e bom o desejo da felicidade. Mas pecamos quando buscamos a felicidade perfeita nas criaturas e não em Deus. Quem coloca em Deus sua felicidade última deve ordenar todos os seus desejos para este fim. E nunca devemos usar meios ilícitos sob o pretexto do fim bom (por exemplo, não devemos roubar para dar esmola). “Tratando-se das ações e das paixões humanas, tem muito valor a experiência, e movem mais os exemplos que as doutrinas” (Suma de Teologia ia-iiae,34,1). Neste sentido, o homem deve usar adequadamente os desejos em vista do bem.
• Qual é o papel das paixões para a perfeição moral segundo Tomás de Aquino?
1) Em primeiro lugar, as paixões não possuem nenhum papel possível no conhecimento da natureza da beatitude, nem sobrenatural, nem natural, uma vez que ambas se fundam em nossa natureza intelectual e não em nossa natureza sensível: o tratado das paixões é distinto do da beatitude, assim como a parte sensitiva da alma o é, já que o apetite sensível distingue-se de sua parte intelectiva;
2) Em segundo lugar, as paixões têm uma relação com a perfeição a que o homem pode chegar naturalmente, que é a virtude, e que Tomás de Aquino identifica por vezes com a beatitude imperfeita acessível nesta vida. E é unicamente na medida em que as paixões derivam da razão e da liberdade que elas são atos humanos e podem, pois, intervir na perfeição própria do homem, a perfeição moral. É, pois, na relação das paixões com a razão, que se dá sua contribuição para a perfeição ou a imperfeição moral do homem: ‘Essas paixões consideradas em si mesmas são comuns aos homens e aos outros animais, mas enquanto comandadas pela razão elas são próprias ao homem (Suma de Teologia ia-iiae, q.24, a.1, ad 1)’.
Assim, por exemplo, a virtude da prudência nos move a realizar o bem segundo as diversas circunstâncias; a temperança refreia nossos desejos e concupiscências; a virtude da fortaleza nos mantém firmes contra o temor e outras paixões que nos inclinam a afastar-nos do bom caminho; a justiça regula nosso agir quanto às coisas exteriores. A razão (neste caso, o intelecto e a vontade) não possui domínio “despótico” ou total sobre as paixões; seu domínio é somente “político” ou resistível. Mas algumas vezes as paixões são tão violentas, que dificultam ou, inclusive, anulam as forças de nosso intelecto e de nossa vontade.
Bibliografia
Tomás de aquino. Suma Teológica. 9 vols. São Paulo: Edições Loyola, 2001ss.
Murta, Alberto. Murta, Cláuda. Santos, Jorge Augusto Silva. Amor e Paixão em Filosofia e Psicanálise. Universidade Federal do Espírito Santo. Secretaria de Ensino a Distância. Vitória/E.S, 2017.

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