1- Linguagem e Educação
Antônio Vidal Nunes1 define a linguagem como
o meio pelo o qual o homem transmitiu de uma geração a outra suas experiências
e seus conhecimento. Sem fazer o uso da linguagem, teria sido muito mais
difícil o processo de transmissão do conhecimento de uma geração a outra. De acordo
com esse pensador “para que isto pudesse ocorrer, inventou também a linguagem.
Nela, enquanto memória social coletiva, o homem foi guardando tudo o que ia
aprendendo em suas experiências e, ao mesmo tempo, transmitindo aos
descendentes.”
Vidal defende que “ela, a linguagem, funciona como
a memória do homem, pois nela estão guardados os seus saberes.” Neste sentido,
a linguagem fornece ao homem a capacidade de conservar seus aprendizados e, ao
mesmo tempo, permitir que outros que vierem posteriormente, também possam
receber essas contribuições. Dito de outra maneira, através da linguagem o
conhecimento armazenado por uma geração pode ser transmitido à geração
seguinte.
Vidal propõe
que “tudo o que aprendemos em nossas vidas se dá por meio da linguagem [...]. A
linguagem está na raiz das construções culturais. Por meio dela, recebemos de
nossos pais, de nossa escola e de nossa sociedade tudo aquilo que é necessário
para que a sociedade continue a existir”.
Além
disso, a linguagem também permite a transmissão de novos conhecimentos. Nas
palavras de Vidal “as realizações da linguagem não estão apenas na
possibilidade de transmitir o velho, traduzem-se também na criação do novo”. O que
permite um crescimento dos saberes ao longo do tempo entre as sociedades humanas
ao redor do planeta terra, ou seja, evolução do conhecimento.
Uma profunda relação é o que existe entre
educação e a linguagem. Não se pode pensar educação sem o uso da linguagem. É
através da linguagem que se torna possível efetivamente a educação. A linguagem
e a educação estão tão intimamente ligadas que é impossível separá-las sem
comprometer seu real significado.___________________________________________________________________________
1. Possui graduação em pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1981), mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1989) e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2001). Pós-Doutorado em Filosofia-UFRJ (2004). Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Espírito Santo. Atua na área de filosofia no Brasil, América Latina, e Filosofia da religião.
O conceito de Educação
Educação
é definida por Vidal como “uma atividade mediante a qual os saberes,
conhecimentos e valores inventados pelos homens são transmitidos.” Essa
capacidade de ensinar ao outro aquilo que se aprendeu, permitiu a humanidade
evoluir sempre mais. Na verdade, essa capacidade é uma das qualidades mais
marcantes na espécie humana. A educação não somente serve para transmitir
aquilo que se aprendeu, mas também as novas descobertas. A humanidade, através
da educação pode superar aqueles desafios que foram surgindo ao longo de seu
desenvolvimento. Vidal acrescenta que a educação “não é apenas transmissão do
legado passado, mas preparação para a criação, para busca de caminhos novos a
partir dos desafios do presente” e por que não, para a construção do futuro
também.
Já o
dicionário Aurélio define educação o “conjunto de normas pedagógicas tendentes
ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito”. Logo, a educação não visa
somente o desenvolvimento da mente, mas do homem como um todo. Bertrand Russell
vai mais longe e afirma que: “A educação, no sentido em que a entendo, pode ser
definida como a formação, por meio da instrução, de certos hábitos mentais e de
certa perspectiva em relação à vida e ao mundo. Resta indagar de nós mesmos,
que hábitos mentais e que género de perspectiva se pode esperar como resultado
da instrução. Um vez respondida essa questão, podemos tentar decidir com o que
a ciência pode contribuir para a formação dos hábitos e da perspectiva que
desejamos.” Portanto, a educação sob essa perspectiva está relacionada com o
modo de vida, ou melhor, serve para melhor viver em sociedade.
Educação como processo criativo
A vida
humana sempre está marcada por desafios que exigem soluções. Quando frente a
esses desafios o homem cria novas soluções e as ensina a outros ele está
realizando um processo educativo. Logo, fica evidenciado o aspecto criativo da
educação. Como afirma Vidal a educação “não é apenas transmissão do legado
passado, mas preparação para a criação, para busca de caminhos novos a partir
dos desafios do presente”.
Na verdade,
essa qualidade criativa é fundamental e determinante para educação. Uma educação
que não crie novas possibilidades está fadada ao fracasso. Faz parte da essência
da educação a criatividade.
É bem
verdade que muitos educadores resistem a essa qualidade da educação, e limitam
e abortam o processo criativo. Eles creem que reproduzir as velhas técnicas é o
suficiente. Inovar para que questionam eles. Mas os jovens desejam o novo, o
homem nunca está satisfeito, por isso, é preciso sempre criar o novo. Daí é que
se percebe a jovialidade da educação. Não se pode negar que a criatividade é o combustível
para a educação.
Índios das Seis Nações e os governos da Virgínia
e Maryland: uma proposta para educação.
Muitas
vezes somos levados a acreditar que o nosso jeito de conceber o mundo, e por
que não dizer, a educação, serve para todos os outros povos. Mais os povos não
são produtos uniformizados, padronizados. Cada povo possui sua cultura, seu
jeito próprio de perceber o mundo. A história mostra o quanto os colonizadores
tentaram pelo seu poder militar e financeiro impor sua cultura a outros povos.
Com a educação não foi diferente!
Esse
texto sobre a narração dos Índios das Seis Nações e os governos da Virgínia e
Maryland é uma grande denúncia contra esse desejo de dominar dos poderosos
sobre os mais fracos. Na educação há forças econômicas que desejam que a
educação seja tecnicista, ou seja, que prepare os alunos para exercer uma
atividade produtiva. Além disso, grupos econômicos internacionais, realizam uma
série de ações para que a educação nos países menos desenvolvidos, sigam os
modelos que eles determinam. Fica claro assim, que desde a época em que essa
narração foi escrita, a educação ainda sofre esse tipo de manipulação e
opressão.
Por outro
lado, muitos acreditam que o modelo educacional do “homem branco”, é o melhor,
e que não há conhecimento verdadeiro entre os indígenas. Ledo engano! Somente a
título de exemplo, citemos os conhecimentos que os índios possuem das ervas
medicinais, muitas vezes superiores aos dos homens da medicina. Poder-se-ia
citar muitos outros, mas por questão de tempo cito apenas esse.
Nietzsche
sobre a metamorfose do espírito pode nos ensinar sobre educação
De
acordo com Nietzsche o homem passa por três metamorfose do espírito: a fase
camelo onde suporta tudo sem reclamar/questionar; a fase leão ele já não é tão
submisso, pois briga, ataca, é feroz; e a última fase é criança quando o homem
é flexível, aberto ao novo, é criativo, possui a capacidade de recomeçar
inúmeras vezes.
A
educação precisa pegar o camelo e transformá-lo em um primeiro momento em leão,
e por fim ajuda-lo a chegar ao ponto de ser criança. Mas é bem verdade que
muitas vezes a educação pode também servir para manter o homem em sua condição
de camelo, incapaz de lutar pela sua libertação e pela justiça.
Paulo
Freire neste sentido é muito atual, na medida que pregava uma educação
transformadora, ou seja, capaz de mudar a situação de opressão e morte, para
uma realidade de vida e de libertação. Em sua obra a pedagogia do oprimido,
Paulo Freire aponta caminhos seguros para o desenvolvimento de uma educação
verdadeiramente libertadora.
CARVALHO,
Marcos de. O que é a natureza. São Paulo: Brasilense, 2003.
ZEA,
Leopoldo. Filosofia latino-americana como filosofia pura e simplesmente.
São Paulo: Gramond,2005.
BRANDÃO,
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Vidal,Antônio.
O homem e a educação. Sead/Ufes. Vitória,2017. Disponível em http://www.especializacao.aperfeicoamento.ufes.br/mod/page/view.php?id=9162. Acesso em 30/11/2017.
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