segunda-feira, 30 de outubro de 2017

O HOMEM E A EDUCAÇÃO


1- Linguagem e Educação


Antônio Vidal Nunes1 define a linguagem como o meio pelo o qual o homem transmitiu de uma geração a outra suas experiências e seus conhecimento. Sem fazer o uso da linguagem, teria sido muito mais difícil o processo de transmissão do conhecimento de uma geração a outra. De acordo com esse pensador “para que isto pudesse ocorrer, inventou também a linguagem. Nela, enquanto memória social coletiva, o homem foi guardando tudo o que ia aprendendo em suas experiências e, ao mesmo tempo, transmitindo aos descendentes.”

Vidal defende que “ela, a linguagem, funciona como a memória do homem, pois nela estão guardados os seus saberes.” Neste sentido, a linguagem fornece ao homem a capacidade de conservar seus aprendizados e, ao mesmo tempo, permitir que outros que vierem posteriormente, também possam receber essas contribuições. Dito de outra maneira, através da linguagem o conhecimento armazenado por uma geração pode ser transmitido à geração seguinte.

Vidal propõe que “tudo o que aprendemos em nossas vidas se dá por meio da linguagem [...]. A linguagem está na raiz das construções culturais. Por meio dela, recebemos de nossos pais, de nossa escola e de nossa sociedade tudo aquilo que é necessário para que a sociedade continue a existir”.

Além disso, a linguagem também permite a transmissão de novos conhecimentos. Nas palavras de Vidal “as realizações da linguagem não estão apenas na possibilidade de transmitir o velho, traduzem-se também na criação do novo”. O que permite um crescimento dos saberes ao longo do tempo entre as sociedades humanas ao redor do planeta terra, ou seja, evolução do conhecimento.
Uma profunda relação é o que existe entre educação e a linguagem. Não se pode pensar educação sem o uso da linguagem. É através da linguagem que se torna possível efetivamente a educação. A linguagem e a educação estão tão intimamente ligadas que é impossível separá-las sem comprometer seu real significado.
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1.  Possui graduação em pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1981), mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1989) e doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2001). Pós-Doutorado em Filosofia-UFRJ (2004). Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Espírito Santo. Atua na área de filosofia no Brasil, América Latina, e Filosofia da religião.








O conceito de Educação


Educação é definida por Vidal como “uma atividade mediante a qual os saberes, conhecimentos e valores inventados pelos homens são transmitidos.” Essa capacidade de ensinar ao outro aquilo que se aprendeu, permitiu a humanidade evoluir sempre mais. Na verdade, essa capacidade é uma das qualidades mais marcantes na espécie humana. A educação não somente serve para transmitir aquilo que se aprendeu, mas também as novas descobertas. A humanidade, através da educação pode superar aqueles desafios que foram surgindo ao longo de seu desenvolvimento. Vidal acrescenta que a educação “não é apenas transmissão do legado passado, mas preparação para a criação, para busca de caminhos novos a partir dos desafios do presente” e por que não, para a construção do futuro também.

Já o dicionário Aurélio define educação o “conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito”. Logo, a educação não visa somente o desenvolvimento da mente, mas do homem como um todo. Bertrand Russell vai mais longe e afirma que: “A educação, no sentido em que a entendo, pode ser definida como a formação, por meio da instrução, de certos hábitos mentais e de certa perspectiva em relação à vida e ao mundo. Resta indagar de nós mesmos, que hábitos mentais e que género de perspectiva se pode esperar como resultado da instrução. Um vez respondida essa questão, podemos tentar decidir com o que a ciência pode contribuir para a formação dos hábitos e da perspectiva que desejamos.” Portanto, a educação sob essa perspectiva está relacionada com o modo de vida, ou melhor, serve para melhor viver em sociedade.



Educação como processo criativo

A vida humana sempre está marcada por desafios que exigem soluções. Quando frente a esses desafios o homem cria novas soluções e as ensina a outros ele está realizando um processo educativo. Logo, fica evidenciado o aspecto criativo da educação. Como afirma Vidal a educação “não é apenas transmissão do legado passado, mas preparação para a criação, para busca de caminhos novos a partir dos desafios do presente”.

Na verdade, essa qualidade criativa é fundamental e determinante para educação. Uma educação que não crie novas possibilidades está fadada ao fracasso. Faz parte da essência da educação a criatividade.

É bem verdade que muitos educadores resistem a essa qualidade da educação, e limitam e abortam o processo criativo. Eles creem que reproduzir as velhas técnicas é o suficiente. Inovar para que questionam eles. Mas os jovens desejam o novo, o homem nunca está satisfeito, por isso, é preciso sempre criar o novo. Daí é que se percebe a jovialidade da educação. Não se pode negar que a criatividade é o combustível para a educação.


Índios das Seis Nações e os governos da Virgínia e Maryland: uma proposta para educação.
Muitas vezes somos levados a acreditar que o nosso jeito de conceber o mundo, e por que não dizer, a educação, serve para todos os outros povos. Mais os povos não são produtos uniformizados, padronizados. Cada povo possui sua cultura, seu jeito próprio de perceber o mundo. A história mostra o quanto os colonizadores tentaram pelo seu poder militar e financeiro impor sua cultura a outros povos. Com a educação não foi diferente!
Esse texto sobre a narração dos Índios das Seis Nações e os governos da Virgínia e Maryland é uma grande denúncia contra esse desejo de dominar dos poderosos sobre os mais fracos. Na educação há forças econômicas que desejam que a educação seja tecnicista, ou seja, que prepare os alunos para exercer uma atividade produtiva. Além disso, grupos econômicos internacionais, realizam uma série de ações para que a educação nos países menos desenvolvidos, sigam os modelos que eles determinam. Fica claro assim, que desde a época em que essa narração foi escrita, a educação ainda sofre esse tipo de manipulação e opressão.
Por outro lado, muitos acreditam que o modelo educacional do “homem branco”, é o melhor, e que não há conhecimento verdadeiro entre os indígenas. Ledo engano! Somente a título de exemplo, citemos os conhecimentos que os índios possuem das ervas medicinais, muitas vezes superiores aos dos homens da medicina. Poder-se-ia citar muitos outros, mas por questão de tempo cito apenas esse.

Nietzsche sobre a metamorfose do espírito pode nos ensinar sobre educação
De acordo com Nietzsche o homem passa por três metamorfose do espírito: a fase camelo onde suporta tudo sem reclamar/questionar; a fase leão ele já não é tão submisso, pois briga, ataca, é feroz; e a última fase é criança quando o homem é flexível, aberto ao novo, é criativo, possui a capacidade de recomeçar inúmeras vezes.
A educação precisa pegar o camelo e transformá-lo em um primeiro momento em leão, e por fim ajuda-lo a chegar ao ponto de ser criança. Mas é bem verdade que muitas vezes a educação pode também servir para manter o homem em sua condição de camelo, incapaz de lutar pela sua libertação e pela justiça.
Paulo Freire neste sentido é muito atual, na medida que pregava uma educação transformadora, ou seja, capaz de mudar a situação de opressão e morte, para uma realidade de vida e de libertação. Em sua obra a pedagogia do oprimido, Paulo Freire aponta caminhos seguros para o desenvolvimento de uma educação verdadeiramente libertadora.
Bibliografia



CARVALHO, Marcos de. O que é a natureza. São Paulo: Brasilense, 2003.

ZEA, Leopoldo. Filosofia latino-americana como filosofia pura e simplesmente. São Paulo: Gramond,2005.

BRANDÃO, Carlos. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2005.

Vidal,Antônio. O homem e a educação. Sead/Ufes. Vitória,2017. Disponível em http://www.especializacao.aperfeicoamento.ufes.br/mod/page/view.php?id=9162. Acesso em 30/11/2017.


NIETZSCHE, F. Os discursos de Zaratustra. Das três metamorfoses. In: Assim falava Zaratustra. São Paulo: Hemus, 1977, p. 19-21.

ALVES, Rubem. Linguagem e poder. In: Suspiro do oprimido. São Paulo: Edições Paulinas, 1984. p. 70-3



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