Cinema e
Psicanálise
I.
O texto
fornece dois exemplos de cinema para apresentar um conceito psicanalítico.
Vários livros e textos de divulgação têm sido escritos fazendo cruzamento entre
imagens e cenas cinematográficas com conceitos psicanalíticos. Escolha umas
cenas ou imagens de um filme e realize um exercício semelhante, utilizando
conceitos psicanalíticos do seu conhecimento como desejo ou inconsciente, entre
outros. Esta atividade será postada no blog do aluno .
Filme: Elis
Data de
lançamento 24 de novembro de 2016 (1h 55min)
Direção:
Hugo Prata
Elenco:
Andreia Horta, Caco Ciocler, Gustavo Machado mais
Gêneros
Drama, Biografia
Nacionalidade
Brasil
Sinopse e detalhes
Não recomendado para menores de 14 anos
Cantora desde a infância, Elis Regina Carvalho Costa (Andreia Horta)
entra na vida adulta deixando o Rio Grande do Sul para espalhar seu talento
pelo Brasil a partir do Rio de Janeiro. Em rápida ascensão, ela logo conquista
uma legião de fãs, entre eles o famoso compositor e produtor Ronaldo Bôscoli
(Gustavo Machado), com quem acaba se casando. Estrela de TV, polêmica, intensa
e briguenta, a "Pimentinha" não tarda a ser reconhecida como a maior
voz do Brasil, em carreira marcada por altos e baixos.
Elis procura todas as formas de realizar seu sonho de ser cantora, é essa
obsessão que norteia toda sua vida. Perez sintetizou muito bem esse fenômeno: “Aquilo
que é objeto de satisfação se torna, por sua vez, causa de desejo. Numa lógica
que não é a da identidade, o objeto é simultaneamente alvo e motor.” (Perez,
2017 p. 9)
Elis a certa altura da vida comete suicídio através de uma overdose de
cocaína e bebidas alcoólicas. Aqui é possível recorrer as ideias de Freud sobre
essa temática, a saber, o suicídio. Mas antes de chegar ao extremo do suicídio,
Elis apresentava um quadro de angustia, aparentemente motivada por entre outras
coisas, pela pressão que determinadas pessoas e grupos faziam pela sua posição
de apoio aos militares. Para ser mais claro, Elis foi pressionada a fazer um
show para os militares, e isso foi visto por alguns como apoio a Ditadura
Militar no Brasil.
Freud define assim define a angustia: “Logo ficou claro para mim que a
angústia de meus pacientes neuróticos tinha muito a ver com a sexualidade; e me
chamou especialmente a atenção a certeza com que o coitus interruptus praticado
numa mulher conduz à neurose de angústia. (...) A neurose de angústia afeta
tanto as mulheres que são frígidas no coito como as que têm sensibilidade.
(Freud, 1894/1996g, p.261).
Apesar da imagem de Elis ser apresentada como de uma mulher forte e bem
resolvida, ela trazia dentro de si uma sensibilidade. Além disso, se faz
necessário adentrar-se no conceito de pulsão de Freud para esclarecer ainda
mais o caso em questão. Freud apresenta dois tipos de pulsões: pulsão de vida/Eros
e pulsão de morte/Tânato. De acordo com o pai da psicanálise “se distingam dois
grupos de tais instintos primordiais: os instintos do ego, ou
autopreservativos, e os instintos sexuais.” (Freud, 1915/1996g, p.139)
A pulsão de morte é tendência de autodestruição do indivíduo; uma força
que se opõe a pulsão de vida. “"Esses tortuosos caminhos para a morte,
fielmente seguidos pelos instintos de conservação, nos apresentariam hoje,
portanto, o quadro dos fenômenos da vida" (Freud, 1920/1996b
p. 49). Assim Elis ao olhar para dentro de si sente uma profunda
tristeza e uma vontade de fugir deste mundo, e a solução para isso ela
encontrou em uma overdose de drogas associada a bebida alcoólicas.
Freud esclarece que o “ser humano não é um ser manso, amável, no máximo
capaz de defender-se se for atacado, mas é lícito atribuir à sua dotação pulsional
uma boa dose de agressividade” (FREUD, 1930, p. 108). Ele ver o homem como um
ser violento, e ao mesmo tempo, capaz de exercer atos agressivos contra seu
semelhante e a si próprio. Elis Regina é um exemplo dessa visão freudiana.
Ademais, essa proposição levará Freud a apresentar
a agressividade como uma força autônoma originária e independente da
sexualidade: “a tendência agressiva é uma disposição pulsional autônoma,
originária, do ser humano” (FREUD, 1930, p. 116).
Em Luto e Melancolia Freud anotou que “o sujeito só pode se matar... se
puder tratar a si mesmo como um objeto”. Mais adiante, na segunda tópica, ao
lançar mão das instâncias do eu, ideal do eu e supereu, avança na questão ao
tratar da tirania do supereu na exaltação do sentimento de culpa.
Evidentemente que o Filme Elis
apresenta diversas outras questões que servem de reflexões psicanalíticas, mas
aqui apenas desejamos esboçar alguns poucos fragmentos nesta direção. Realizamos
um brevíssimo sobrevoo sobre o suicídio no pensamento de Freud, mas cientes de
que mesmo aí há muito ainda a ser desbravado.
Bibliografia
Freud, S. (1996b). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J.
Strachey, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud (Vol. 7). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em
1905).
Freud, S. (1996g). Rascunho E: Como se origina a angústia (Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 1,
pp. 235-241). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1894).
FREUD, S. (1930) “El
malestar en la cultura”, v. XXI.
FREUD, Sigmund, “Luto e Melancolia” (1917 [1915]) in Obras Completas,
Rio de Janeiro: Imago, 1969.
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