Freud,
Hobbes e o destino corpo político
Vladimir
Safatle o Departamento de Filosofia da USP no IV Fórum Brasileiro de
Pós-Graduação em Ciência Política sediado pelo Departamento de Ciência Política
da UFF, apresenta as teorias dos afetos e os vínculos sociais no pensamento de
Freud e sua correspondente visão político-social, bem como a correspondência
desta linha de pensamento com Hobbes.
De
acordo com Safatle Freud está em busca da relação dos vínculos sociais e os
afetos, ou seja, como o sujeito está ligado afetivamente com a figura de um
líder. Para desenvolver essa tese, Safatle vai no pensamento de Hobbes, pois
para esse filósofo os afetos abrem os indivíduos para os vínculos sociais, de
maneira especial com os governantes.
De
acordo com Hobbes, é medo e a necessidade de proteção que levam os sujeitos a
de vincularem, ou melhor, possuírem a necessidade de um governo que os ampare.
Logo, fica evidenciado o aspecto de animalidade e violência natos aos homens,
instaura as condições e necessidades das leis coercitivas, mantidas e operadas
pelo poder do governo. O governo por sua vez, legitima essa necessidade,
colocando-se na condição de guardião da ordem e da paz. Dito de outro modo, o
governo patrocina o sentimento de desamparo dos indivíduos e se apresenta como
seu protetor. Por trás desse sentimento de desempara, Hobbes coloca a seguinte
ideia: a guerra de todos contra todos.
Freud
na mesma linha de raciocínio, defende a tese que o homem é violento por
natureza e por isso seria impossível remover essa característica dele. Safatle
esclarece a importância de se compreender a noção de desamparo em Freud como
premissa fundamental a analise dos afetos como vínculo a figura do governante.
Freud entende desamparo como o afeto ligado a paralisia, inadequação, ou seja,
a incapacidade de mensuração e vulnerabilidade frente a determinados
acontecimentos. Dito de outro modo, e a sensação de incapacidade diante de
possíveis acontecimentos maus. Nessa mesma esteira encontra-se a noção de
contingência em Freud. Para ele a contingencia seria aquilo que não poderia ser
previsto, mas quando acontece cria a uma necessidade.
Em
seguida, Safatle aborda a noção de corpo político/Estado no âmbito dos sistemas
políticos, partindo de Hobbes, e sua clássica obra O Leviatã, ele faz uma
rápida constatação dessa ideia de corpo desde filósofos gregos até a
modernidade, onde se afirma que em todos esses modelos a noção de corpo está
presente. Ele conclui que não é possível pensar e fazer política sem uma
identificação, no caso, o corpo. O corpo político aqui é o Estado.
Esse
espaço é preenchido por um líder que se apresenta com características do pai
primevo, ou seja, aquele que protege e aplica as regrar. Neste sentido, as
sociedades ainda precisam da religião como substituta do pai primevo. Freud
aborda a questão do pai primevo em sua obra Totem e Tabu. Apesar de a
democracia se apresentar como sem corpo, isso não se configura na prática. No
totalitarismo, o ditador domina os indivíduos justamente por se apresentar como
um pai, que protege e por isso, esta acima do bem e do mal.
Por
fim Safatle discute rapidamente a situação politica brasileira. De acordo com
ele, o Brasil não está passando por uma crise econômica, pois os bancos estão
fechando suas operações com lucros bilionários. Na verdade, ele sustenta a tese
que no máximo há um deslocamento de capital. Para Safatle, o problema do Brasil
é a crise política. A nova república ruiu, bem como o pacto pela
redemocratização, e as lideranças atuais não conseguem mais legitimar sua
autoridade e imagem perante a sociedade. Neste sentido, o Brasil precisa
encontrar novas alternativas políticas, o que no curto prazo parece não ser
possível. A verdade é que diante da crise política atual não há alternativas e
soluções visíveis.
Safatle
sustenta a ideia de que o Estado enquanto corpo cria essas anomalias e com o
tempo também as soluciona. A história revela que as crises são a base para
criação de novas possibilidades, e assim, o Brasil precisará encontrar seu
caminho, como foi o caso da França, com a revolução Jacobina.
Bibliografia