quarta-feira, 6 de dezembro de 2017


Freud, Hobbes e o destino corpo político

Vladimir Safatle o Departamento de Filosofia da USP no IV Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência Política sediado pelo Departamento de Ciência Política da UFF, apresenta as teorias dos afetos e os vínculos sociais no pensamento de Freud e sua correspondente visão político-social, bem como a correspondência desta linha de pensamento com Hobbes.

De acordo com Safatle Freud está em busca da relação dos vínculos sociais e os afetos, ou seja, como o sujeito está ligado afetivamente com a figura de um líder. Para desenvolver essa tese, Safatle vai no pensamento de Hobbes, pois para esse filósofo os afetos abrem os indivíduos para os vínculos sociais, de maneira especial com os governantes.

De acordo com Hobbes, é medo e a necessidade de proteção que levam os sujeitos a de vincularem, ou melhor, possuírem a necessidade de um governo que os ampare. Logo, fica evidenciado o aspecto de animalidade e violência natos aos homens, instaura as condições e necessidades das leis coercitivas, mantidas e operadas pelo poder do governo. O governo por sua vez, legitima essa necessidade, colocando-se na condição de guardião da ordem e da paz. Dito de outro modo, o governo patrocina o sentimento de desamparo dos indivíduos e se apresenta como seu protetor. Por trás desse sentimento de desempara, Hobbes coloca a seguinte ideia: a guerra de todos contra todos.

Freud na mesma linha de raciocínio, defende a tese que o homem é violento por natureza e por isso seria impossível remover essa característica dele. Safatle esclarece a importância de se compreender a noção de desamparo em Freud como premissa fundamental a analise dos afetos como vínculo a figura do governante. Freud entende desamparo como o afeto ligado a paralisia, inadequação, ou seja, a incapacidade de mensuração e vulnerabilidade frente a determinados acontecimentos. Dito de outro modo, e a sensação de incapacidade diante de possíveis acontecimentos maus. Nessa mesma esteira encontra-se a noção de contingência em Freud. Para ele a contingencia seria aquilo que não poderia ser previsto, mas quando acontece cria a uma necessidade.

Em seguida, Safatle aborda a noção de corpo político/Estado no âmbito dos sistemas políticos, partindo de Hobbes, e sua clássica obra O Leviatã, ele faz uma rápida constatação dessa ideia de corpo desde filósofos gregos até a modernidade, onde se afirma que em todos esses modelos a noção de corpo está presente. Ele conclui que não é possível pensar e fazer política sem uma identificação, no caso, o corpo. O corpo político aqui é o Estado.

Esse espaço é preenchido por um líder que se apresenta com características do pai primevo, ou seja, aquele que protege e aplica as regrar. Neste sentido, as sociedades ainda precisam da religião como substituta do pai primevo. Freud aborda a questão do pai primevo em sua obra Totem e Tabu. Apesar de a democracia se apresentar como sem corpo, isso não se configura na prática. No totalitarismo, o ditador domina os indivíduos justamente por se apresentar como um pai, que protege e por isso, esta acima do bem e do mal.

Por fim Safatle discute rapidamente a situação politica brasileira. De acordo com ele, o Brasil não está passando por uma crise econômica, pois os bancos estão fechando suas operações com lucros bilionários. Na verdade, ele sustenta a tese que no máximo há um deslocamento de capital. Para Safatle, o problema do Brasil é a crise política. A nova república ruiu, bem como o pacto pela redemocratização, e as lideranças atuais não conseguem mais legitimar sua autoridade e imagem perante a sociedade. Neste sentido, o Brasil precisa encontrar novas alternativas políticas, o que no curto prazo parece não ser possível. A verdade é que diante da crise política atual não há alternativas e soluções visíveis.

Safatle sustenta a ideia de que o Estado enquanto corpo cria essas anomalias e com o tempo também as soluciona. A história revela que as crises são a base para criação de novas possibilidades, e assim, o Brasil precisará encontrar seu caminho, como foi o caso da França, com a revolução Jacobina.
Bibliografia

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