segunda-feira, 12 de março de 2018


Cinema e Psicanálise

I.                    O texto fornece dois exemplos de cinema para apresentar um conceito psicanalítico. Vários livros e textos de divulgação têm sido escritos fazendo cruzamento entre imagens e cenas cinematográficas com conceitos psicanalíticos. Escolha umas cenas ou imagens de um filme e realize um exercício semelhante, utilizando conceitos psicanalíticos do seu conhecimento como desejo ou inconsciente, entre outros. Esta atividade será postada no blog do aluno .

Filme: Elis

Data de lançamento 24 de novembro de 2016 (1h 55min)

Direção: Hugo Prata

Elenco: Andreia Horta, Caco Ciocler, Gustavo Machado mais

Gêneros Drama, Biografia

Nacionalidade Brasil

Sinopse e detalhes

Não recomendado para menores de 14 anos

Cantora desde a infância, Elis Regina Carvalho Costa (Andreia Horta) entra na vida adulta deixando o Rio Grande do Sul para espalhar seu talento pelo Brasil a partir do Rio de Janeiro. Em rápida ascensão, ela logo conquista uma legião de fãs, entre eles o famoso compositor e produtor Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado), com quem acaba se casando. Estrela de TV, polêmica, intensa e briguenta, a "Pimentinha" não tarda a ser reconhecida como a maior voz do Brasil, em carreira marcada por altos e baixos.

Elis procura todas as formas de realizar seu sonho de ser cantora, é essa obsessão que norteia toda sua vida. Perez sintetizou muito bem esse fenômeno: “Aquilo que é objeto de satisfação se torna, por sua vez, causa de desejo. Numa lógica que não é a da identidade, o objeto é simultaneamente alvo e motor.” (Perez, 2017 p. 9)

Elis a certa altura da vida comete suicídio através de uma overdose de cocaína e bebidas alcoólicas. Aqui é possível recorrer as ideias de Freud sobre essa temática, a saber, o suicídio. Mas antes de chegar ao extremo do suicídio, Elis apresentava um quadro de angustia, aparentemente motivada por entre outras coisas, pela pressão que determinadas pessoas e grupos faziam pela sua posição de apoio aos militares. Para ser mais claro, Elis foi pressionada a fazer um show para os militares, e isso foi visto por alguns como apoio a Ditadura Militar no Brasil.

Freud define assim define a angustia: “Logo ficou claro para mim que a angústia de meus pacientes neuróticos tinha muito a ver com a sexualidade; e me chamou especialmente a atenção a certeza com que o coitus interruptus praticado numa mulher conduz à neurose de angústia. (...) A neurose de angústia afeta tanto as mulheres que são frígidas no coito como as que têm sensibilidade. (Freud, 1894/1996g, p.261).

Apesar da imagem de Elis ser apresentada como de uma mulher forte e bem resolvida, ela trazia dentro de si uma sensibilidade. Além disso, se faz necessário adentrar-se no conceito de pulsão de Freud para esclarecer ainda mais o caso em questão. Freud apresenta dois tipos de pulsões: pulsão de vida/Eros e pulsão de morte/Tânato. De acordo com o pai da psicanálise “se distingam dois grupos de tais instintos primordiais: os instintos do ego, ou autopreservativos, e os instintos sexuais.” (Freud, 1915/1996g, p.139)

A pulsão de morte é tendência de autodestruição do indivíduo; uma força que se opõe a pulsão de vida. “"Esses tortuosos caminhos para a morte, fielmente seguidos pelos instintos de conservação, nos apresentariam hoje, portanto, o quadro dos fenômenos da vida" (Freud, 1920/1996b p. 49). Assim Elis ao olhar para dentro de si sente uma profunda tristeza e uma vontade de fugir deste mundo, e a solução para isso ela encontrou em uma overdose de drogas associada a bebida alcoólicas.

Freud esclarece que o “ser humano não é um ser manso, amável, no máximo capaz de defender-se se for atacado, mas é lícito atribuir à sua dotação pulsional uma boa dose de agressividade” (FREUD, 1930, p. 108). Ele ver o homem como um ser violento, e ao mesmo tempo, capaz de exercer atos agressivos contra seu semelhante e a si próprio. Elis Regina é um exemplo dessa visão freudiana. Ademais, essa proposição levará Freud a apresentar a agressividade como uma força autônoma originária e independente da sexualidade: “a tendência agressiva é uma disposição pulsional autônoma, originária, do ser humano” (FREUD, 1930, p. 116).

Em Luto e Melancolia Freud anotou que “o sujeito só pode se matar... se puder tratar a si mesmo como um objeto”. Mais adiante, na segunda tópica, ao lançar mão das instâncias do eu, ideal do eu e supereu, avança na questão ao tratar da tirania do supereu na exaltação do sentimento de culpa.

 Evidentemente que o Filme Elis apresenta diversas outras questões que servem de reflexões psicanalíticas, mas aqui apenas desejamos esboçar alguns poucos fragmentos nesta direção. Realizamos um brevíssimo sobrevoo sobre o suicídio no pensamento de Freud, mas cientes de que mesmo aí há muito ainda a ser desbravado.





Bibliografia

Freud, S. (1996b). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey, Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 7). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1905).

Freud, S. (1996g). Rascunho E: Como se origina a angústia (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 1, pp. 235-241). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1894).

FREUD, S. (1930) “El malestar en la cultura”, v. XXI.

FREUD, Sigmund, “Luto e Melancolia” (1917 [1915]) in Obras Completas, Rio de Janeiro: Imago, 1969.


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